O número de homens que não trabalham por esses motivos, ao contrário das mulheres é de apenas 80 mil, ou 4% do total

Rosely Rocha e Contraf-CUT

O papel de responsável pelos cuidados da casa e dos familiares, baseado num modelo de sociedade patriarcal, fez 2 milhões de mulheres brasileiras desistirem de trabalhar e de construir uma carreira profissional. Outras 553 mil que procuravam emprego também mencionaram esses fatores como impeditivos para trabalhar . Ao todo, portanto, mais de 2,5 milhões de mulheres não trabalharam em 2022 para cuidar de parentes ou de tarefas domésticas.

Essas mulheres fazem parte do contingente de quase 7 milhões, de idades entre 15 e 29 anos que não estudavam nem estavam ocupadas em 2022. Elas representam nada menos que 63,4% dos mais de 10,8 milhões de brasileiros da mesma faixa etária que estavam nesta situação no ano passado.

Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais 2023, estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diuvlgados na última quarta-feira (6), que faz uma análise das condições de vida da população brasileira em 2023, incluindo mercado de trabalho, indicadores de rendimentos, condições de moradia e educação.

Este trabalho invisível e não remunerado de cuidados que envolve uma série de atividades como a limpeza da casa, a compra de alimentos e atender as necessidades de crianças ou idosos, sejam eles independentes ou não, na grande maioria das vezes exercido por mulheres consumiu domicílios cerca de 12,5 bilhões de horas todos os dias.

Este último dado é de um levantamento da Oxfam – uma confederação de 19 organizações e mais de 3000 parceiros, que atua em mais de 90 países na busca de soluções para o problema da pobreza, desigualdade e da injustiça. “O trabalho de prestação de cuidados é o ‘motor oculto’ que mantém em movimento as rodas das nossas economias, empresas e sociedades”, destacou a entidade em seu relatório.

A situação dos homens é totalmente inversa. O número dos que saíram do mercado de trabalho pela necessidade de cuidar da casa e da família e, por isso não procuravam emprego foi de 80 mil, o que representa menos de 4% do total de mulheres na mesma situação. O principal motivo alegado por eles foram os problemas de saúde, com 420 mil. Entre aqueles que queriam trabalhar, apenas 17 mil mencionaram questões domésticas.

Política Nacional de Cuidados (PNC)

Esta invisibilidade do trabalho de cuidados foi abordada em seminário realizado pelo Ministério da Mulher, de quarta (6) a quinta-feira (7), em Brasília, com a presença de cerca de 200 pessoas, entre representantes do governo, movimentos sociais e pessoas da academia.

O objetivo do evento foi trazer propostas para a Política Nacional de Cuidados, para o qual um grupo de trabalho interministerial, com a participação de várias entidades, foi criado, e conta com representantes do movimento sindical bancário”, destacou a secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Fernanda Lopes, que representa o movimento sindical bancário no GTI, como suplente de Neiva Ribeiro, a vice-presidenta da Uni Américas Mulheres e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

“De certa forma, nós estamos falando de uma espécie de ‘indústria’ muito valiosa no mundo, mas esquecida, que é o trabalho de cuidado, tão fundamental para o bem-estar humano e social. Então, essa reflexão foi aprofundada neste evento que não terminou em si mesmo, mas faz parte de um projeto mais amplo para que o país encontre saídas para equalizar essa questão, reduzindo desigualdades”, pontuou Fernanda Lopes.

As pautas do seminário foram divididas em painéis de discussão:

Divisão sexual do trabalho no Brasil: desafios para uma política nacional de cuidados;

O trabalho reprodutivo: impactos e significados na vida das mulheres e;

Demandas por cuidado: desafios na elaboração de uma política nacional

O PNC

O governo Lula criou a Secretaria Nacional de Cuidados e Família do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), pasta responsável, ao lado do Ministério das Mulheres, de coordenar a pauta.

Por decreto presidencial, no dia 30 de março deste ano foi instituído um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), composto por 17 ministérios, além do IBGE, IPEA e Fiocruz.

Seu objetivo fundamental é garantir o direito ao cuidado a todas as pessoas que o necessitem e o trabalho decente para as trabalhadoras e os trabalhadores do cuidado, considerando as desigualdades estruturais que caracterizam a sociedade brasileira em termos de gênero, classe, raça, etnia, território e ciclo de vida.

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