Como integrante de projeto idealizado por rede de ensino, sindicato propôs levar temática a trabalhadores e trabalhadoras da Usina de Monlevade; no dia 15 de agosto, houve palestra aberta a toda a comunidade

[Escrito por: Wir Caetano/Sindmon-Metal]

Evento na sede do Sindmon-Metal abordou cultura machista que alimenta desigualdade de gênero e violência [Foto: Wir Caetano / Dabliê]
“Gostaríamos até que a ArcelorMittal admitisse muitas mulheres e as trouxesse para cá [para filiação sindical]”. Com essa frase em aparente tom de brincadeira, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade (Sindmon-Metal) e da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT) José Quirino se referiu à política cutista que exige participação igualitária de gênero nas diretorias de sindicatos filiados à central. O comentário foi feito na abertura de evento que discutiu violência contra a mulher, realizado na última quinta-feira (15), na sede do Sindmon-Metal.

O evento, que contou com palestra da advogada Ariete Pontes de Oliveira, doutora em Direito e professora da Faculdade Doctum de João Monlevade, é fruto de parceria entre essa instituição de ensino, o Sindmon-Metal e a ArcelorMittal. O objetivo é mudar a cultura machista que está na base das práticas violentas motivadas por diferença de gênero.

Ariete Pontes disse que discutir gêneros é discutir diversidade e que, segundo a Constituição Federal, todos os “sujeitos diversos merecem igualdade”. Ela destacou, porém, que legislação não muda conduta e, por isso, é preciso é mudar padrões culturais. Com uma breve análise histórica, a advogada disse que somos regidos pelo patriarcado que toma a desigualdade como algo natural e, dessa forma, reserva espaços desiguais para homens, mulheres e segmento LGBT na vida doméstica, no trabalho e nos outros espaços sociais.

Diferenças

A professora Ariete Pontes destacou que a violência contra a mulher acontece em todas as classes e lugares sociais, mas que o problema é ainda mais grave quando se considera o componente racial. Citando o Mapa da Violência 2015, ela lembrou que, de acordo com esse documento, o assassinato de mulheres negras aumentou (54%) enquanto o de brancas diminuiu (9,8%).

Em junho deste ano, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou o Atlas da Violência 2019, com dados atualizados. Por esse levantamento, entre 2007 e 2017, o aumento de homicídios que tiverem vítimas do sexo feminino ficou em torno de 20,7%, sendo que o crescimento chegou a 60% entre negras frente 1,7% entre as demais.

A presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sintramon), Isaura Bicalho, que participou da mesa do evento, disse que o machismo está presente também no meio sindical. A abordagem foi reforçada pela professora Cida Ribeiro, coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), subsede de João Monlevade, que disse ainda que governantes “não gostam de negociar com mulher”.

Parceria

“Quando o Sindmon-Metal nos procurou propondo uma parceria, concordamos prontamente”, disse o gerente de Recursos Humanos da ArcelorMittal Monlevade, Vander Neves.  Em sua opinião, instituições que têm historicamente um papel de influenciadoras precisam se mobilizar para implementar mudanças na sociedade.

O Sindmon-Metal participa de um grupo de trabalho da Faculdade Doctum encabeçado pela professora Ariete Pontes, idealizadora do projeto “Ciranda Cirandinha, Vamos Todxs Cirandar”, dedicado ao combate à violência contra a mulher. Em julho, o sindicato propôs à ArcelorMittal levar essa temática aos trabalhadores e trabalhadoras da siderúrgica. Teve início então a parceria, envolvendo ação integrada com um programa que a empresa começa a implementar.

O presidente do Sindmon-Metal, Otacílio das Neves Coelho, defende que “sindicatos e centrais sindicais têm papel que vai muito além das demandas restritas de suas categorias, e parcerias ajudam a ampliar ações em benefício da sociedade”.  Na opinião do sindicalista, trabalhar em pautas comuns de interesse da comunidade não implica fazer concessões em bandeiras específicas da base que que o sindicato representa.  “Temos consciência de nossos compromissos históricos”, destaca.

A advogada e professora Ariete Pontes disse que é preciso mudar a cultura machista que domina a sociedade [Foto: Wir Caetano / Dabliê]
[José Quirino (à direita), diretor da CNM/CUT – tendo ao seu lado o presidente do Sindmon-Metal, Otacílio – citou política cutista da igualdade de gênero; também na mesa (da esq. para a direita), Cida Ribeiro, coordenadora do Sind-UTE/MG, subsede de João Monlevade; Vander Nunes, gerente de RH da ArcelorMittal; Isaura Bicalho, presidente do Sintramon; e a professora Ariete Pontes – Foto: Wir Caetano / Dabliê]

Mais fotos>>>

Matéria relacionada: Violência de gênero será tema de palestras em agosto>>>

By admin

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *