Carmen Foro, Secretária Geral da CUT faz um balanço das lutas dos últimos anos e reforça que 2022, ano de eleições, é tempo de se apoiar na resistência e na esperança para reconstruir o Brasil
[Escrito por: Maristela Lopes, especial para o Portal CUT | Editado por: André Accarini]
Assim como em 2020, o ano de 2021, segundo ano de pandemia do coronavírus, foi marcado pelo recrudescimento dos desafios impostos ao movimento sindical desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016, que mergulhou o país em uma profunda crise econômica e social e deu início a uma série de ataques sistemáticos aos direitos da classe trabalhadora.
Com a crise sanitária e a falta de ações efetivas do governo de Jair Bolsonaro (PL) para salvar a maior parte da população da fome e da morte, a luta dos representantes dos trabalhadores teve de ser ainda mais árdua.
“Em 2022, ano de eleições e, portanto, da possiblidade real de dar fim ao governo Bolsonaro, a resistência e a esperança permearão ainda mais a atuação da CUT e de seus sindicatos na representação e organização da classe trabalhadora e na eleição de um presidente do povo”, diz a Secretária Geral da CUT, Carmen Foro, em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto para o pleito.
Ao fazer um balanço dos dois últimos anos, Carmen avalia que a atual situação do Brasil é de um retrocesso que impacta diretamente à população mais pobre, penalizada pelos níveis recordes de desemprego, miséria e fome. Hoje, cerca de 20 milhões de famílias não têm o que comer. “Essas pessoas precisam de nós e nós continuaremos lá, lutando por elas, até que esse governo acabe”, ela diz.
A dirigente cita a capacidade de resistência e luta da CUT diante de crises, em especial a que vivemos nestes tempos. Ela lembra que por causa da pandemia, assim como outros setores da sociedade, o movimento sindical teve que se adaptar à nova realidade.
“Tivemos que aprender a nos movimentar, de forma online, pela internet, para falar com a nossa base, com os trabalhadores. E assim lutarmos por muitas ações coletivas,” ela conta.
Em uma estratégia para seguir os protocolos sanitários, mas não se ausentar em nenhum instante da responsabilidade de representar e defender a classe trabalhadora, em especial neste período, a CUT e sindicatos fecharam suas sedes físicas, assim como em outros setores, a Central a não parou.
“A CUT construiu uma plataforma que permitiu lutar e pressionar o Congresso Nacional – juntamente com os mais diversos movimentos sociais, pela agricultura familiar, pelas mobilizações contra a retirada de direitos trabalhistas, enfim, contra todos os ataques deste governo” lembra a dirigente, ressaltando que o ano de 2021 foi um ‘ano muito duro’.
“Aprendemos a viver distante, mas sem parar de fazer as lutas do povo brasileiro. A CUT, sempre vigilante, atuou junto ao Congresso Nacional para forçar a inclusão de temas e propostas importantes nas mais diversas áreas, em especial na saúde, na educação, e no campo econômico. O Auxílio Emergencial de 600 reais aos trabalhadores e trabalhadoras, ao contrário do que diz o presidente, foi uma luta da CUT junto com os partidos de oposição e movimentos sociais”, ela lembra.
Fora, Bolsonaro!
A CUT entende que para o país retomar o crescimento, o desenvolvimento com geração de emprego e renda e, consequentemente, oferecer uma vida minimamente digna aos brasileiros, não há outro caminho senão, com Bolsonaro fora da Presidência da República.
O Brasil tem sido penalizado pelas sucessivas ações (ou falta delas) de Bolsonaro tanto no enfrentamento à pandemia, que envolve questões sanitárias econômicas, como no processo de entrega de nossas riquezas e nossa soberania aos interesses do capital. E essa ‘entrega’ resulta em danos ao patrimônio nacional (as estatais, por exemplo, sendo ameaçadas ou já em processo de privatização); ao meio ambiente (as queimadas de biomas como a Amazônia, por exemplo); e, principalmente, com consequências graves à população brasileira na questão econômica.
Sem emprego e sem renda, trabalhadores e trabalhadoras ainda têm de lidar com a inflação que já passa da marca dos dois dígitos e os constantes aumentos de preços de alimentos e combustíveis que – mais uma vez – são de responsabilidade do governo federal que não toma medidas para frear a elevação.
Este cenário, aliado aos constantes ataques a direitos trabalhistas e sociais, fez a CUT e movimentos sociais, além de outros setores da sociedade se unirem na Campanha Nacional Fora, Bolsonaro e promoverem grandes manifestações de ruas que levaram milhões de pessoas às ruas durante o ano em todo o país.
Tempo de se reorganizar
Frente à nova realidade imposta ao mundo do trabalho tanto pelos ataques aos direitos quanto pelas novas tecnologias, que permitiram uma maior precarização das relações de trabalho, a CUT, seguindo a resolução de seu Congresso em 2019 (13° CONCUT), realizou sua 16ª Plenária estatutária, de modo misto entre virtual e presencial, em outubro deste ano.
O objetivo da plenária, que contou com a participação on-line de mais de mil sindicalistas de todo o país, foi o de traçar estratégias de luta para a defesa da classe trabalho, não somente os formalizados, mas o conjunto de trabalhadores, incluindo aqueles que ainda não contam com uma organização de base e, portanto, não tem uma representação”
“Nossa responsabilidade é defender esses trabalhadores. É um princípio da CUT desde sua fundação em 1983 e estamos, mais uma vez, arregaçando as mangas para lutar por esses trabalhadores e fazer história conquistando direitos”, diz Camen Foro.
Além da plenária, por meio de outras ações, a CUT tem se posicionado sobre como lidar com essas novas tendências tecnológicas e não permitir que os trabalhadores sejam ‘escravizados’, como sugerem as relações de trabalho de profissionais que dependem de aplicativos, como Uber, Ifood, entre outros, que ficam reféns das plataformas para poder ter alguma renda – na maioria das vezes, insuficiente para seu sustento.
“É inadmissível que o entregador que entrega a comida, não tenha o que comer”
O Brasil de hoje
Ao avaliar o período atual, Carmen frisa que o país vive sob um ‘desgoverno’ de omissões, de irregularidades e de violações de direitos humanos. “O Brasil está destruído, com total abandono da classe trabalhadora. Todo o nosso processo de mobilização também se deu diante de tantas perdas de vidas pela Covid-19 e pelo atraso da vacinação,” ela destaca chamando a atenção para a atuação do Congresso Nacional.
“O país está mergulhado numa crise socioeconômica sem precedentes com esse desgoverno genocida e sua base parlamentar. No Congresso, ‘de tudo’ passou”. Carmen cita alguns exemplos como o orçamento secreto de Bolsonaro, sua rendição ao Centrão e à velha política, e projetos de lei que decidiram sobre as vidas dos brasileiros em temas cruciais. “Esse Congresso teve quase papel decisivo, sob a tutela de Bolsonaro,” ela avalia.
Contudo, ressalta a dirigente, com muita pressão junto aos parlamentares, houve vitórias relevantes como a não aprovação da PEC 32, da reforma administrativa, que representa um desmonte dos serviços públicos e de desvalorização dos servidores ativos e aposentados.
A Secretária Geral da CUT destacou ainda que os movimentos sociais não ‘arredaram pé’ de suas lutas. Mais de 600 greves foram realizadas por todo país durante os últimos anos, além de negociações, principalmente por causa do agravamento do desemprego que impactou em maior proporção as mulheres, negros e negras e jovens. “Um déficit muito grande neste ano para a classe trabalhadora”, disse Carmen Foro.
A destruição do Meio Ambiente
Carmen Foro, que é da região amazônica e tem uma trajetória de luta pelos povos do campo e da floresta destaca que o governo de Bolsonaro promove um desmonte das políticas e dos órgãos de preservação ambientais, provocando o aumento do desmatamento, do garimpo ilegal e da ocupação das terras indígenas na região.
“O meio ambiente cumpre um papel decisivo no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). E, infelizmente, são nas áreas desmatadas onde têm mais pessoas passando fome”, denuncia.
Ela faz uma crítica contundente ao conjunto de projetos que historicamente são implantados na região amazônica, como a hidrovia Araguaia-Tocantins que não leva em consideração os interesses das populações locais.
Em fase de licenciamento ambiental, esta obra do governo federal atende aos interesses do agronegócio dos produtores de soja e da exploração mineral e vai impactar de forma irreversível o modo de vida de milhares de famílias de ribeirinhos, quilombolas e indígenas da região.
“Esses projetos têm nome de desenvolvimento, dizem que garante desenvolvimento, mas para quem?”, ela questiona.
Presente e futuro
O segundo ano de pandemia se encerra com mais uma das crises e discórdias alimentadas pelo negacionismo, pelas notícias falsas, ameaças a servidores e pela ideologia fascista de Bolsonaro com o intuito de tumultuar a opinião pública por meio de seus apoiadores.
Mesmo com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dada após estudos científicos de credibilidade, o presidente tem questionado a vacinação em crianças de 5 a 11 anos, o que, segundo os especialistas, é fundamental para proteger a vida desta população, a vida de familiares e ajudar a conter a disseminação da nova variante Ômicron.
Carmen Foro frisa que é necessário o Brasil enxergar que essa política é nociva ao país e que “é preciso mudar, virar a chave”.
Ela ainda reforça que a conduta do governo Bolsonaro tem o propósito de empurrar “de volta à invisibilidade a classe trabalhadora e os mais vulneráveis”. E ressalta: “respeitem-nos”
A dirigente reforça ainda que, em 2022, ano de eleições, a CUT vai continuar a se dedicar ”com muito afinco a luta pela recuperação da economia, com crescimento e distribuição de renda”.
“Não podemos perder a esperança. É preciso que a gente lute e que a política seja um instrumento de esperançar. Resistir é a nossa missão”
– Carmen Foro